Em breve (2015), de Morris Gleitzman

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«Em breve, espero, o mundo será um lugar seguro e feliz. Mas esta manhã ainda não o é.»

Estamos na Polónia, em 1945, e Felix, um rapaz judeu de 13 anos, vive escondido com Gabriel, de 42 anos, o seu único amigo. Este vai conseguindo comida consertando todo o tipo de coisas que lhe pedem. Felix ajuda-o e socorre quem pode com os seus conhecimentos de medicina.

A guerra terminou, mas por todo o lado há um clima de violência, desespero e desconfiança. As casas estão destruídas, os serviços básicos quase não funcionam, as pessoas têm fome e é difícil saber em quem confiar.

Numa das suas saídas do esconderijo, Felix conhece Anya, uma rapariga misteriosa de quem acaba por se tornar amigo. Noutra saída entregam-lhe um bebé órfão que ele não consegue abandonar e que leva para casa. Até que, por fim, a sua vida se cruza com a de outra pessoa: o enigmático doutor Lipzyk. Este encontro vai marcar as suas vidas para sempre.

Mesmo num período de violência e caos, como é sempre um pós-guerra, Felix continua a ter esperança, coragem e bondade. Ele tudo fará para fazer a sua parte na reconstrução de um mundo melhor.

Apreciação

Não são muitos os livros infanto-juvenis que abordam a Segunda Guerra Mundial. O Rapaz do Pijama às Riscas, de John Boyne, tornou-se um êxito de vendas, possivelmente graças à visão ingénua do jovem protagonista que narra a realidade absurda em que vive, e sobretudo depois da adaptação cinematográfica que levou esta história a um público muito mais vasto. Não se poderá considerar O Diário, de Anne Frank, um livro infanto-juvenil per se, tal é a intensidade da narração verídica da jovem rapariga que partilha a sua horrenda experiência enclausurada no centro da Polónia nos anos ’40: trata-se, sim, de um registo histórico ao mais alto nível. Estes são bons exemplos de obras que prendem a atenção do leitor e que conseguem expor o cenário e o absurdo desta guerra, as vivências das vítimas do Holocausto e a incompreensão face ao que de pior foi revelado pela espécie humana.

Escrever para não esquecer. Em Breve, de Morris Gleitzman, está enquadrado numa colecção que conta a vida de Felix, o jovem judeu que dá por si no meio de uma guerra que não entende e que, num instante, perde tudo o que era importante para si e se vê na mais absoluta das solidões enquanto tenta sobreviver. Neste volume, acompanhamos o rapaz na Polónia pouco tempo depois de a guerra terminar, embora isso não tenha significado necessariamente o fim dos horrores. Entre fome, fuga de gangues organizados e uma longa espera que o levará de novo à (nova) normalidade, Felix passa por inúmeras provações que o testam ao limite – e, note-se, esta criança é um raro sobrevivente de um campo de concentração.

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