Outrora e outros tempos (2019), de Olga Tokarczuk

Outrora é uma aldeia polaca situada no centro do mundo e protegida por quatro arcanjos. Esta mítica aldeia, onde a relva sangra, a roupa tem memória e os animais falam por imagens, é povoada por personagens excêntricas e inesquecíveis – humanas, animais, vegetais, minerais – cujas existências obedecem aos ciclos das estações e à inexorável passagem do seu Tempo, mas também aos acontecimentos externos.

Durante três gerações, este microcosmo instável e arrebatador assiste ao eclodir de uma Grande Guerra, à Crise, a uma nova e Segunda Grande Guerra, à Ocupação Nazi, à invasão Russa, e ao choque entre a modernidade e a natureza, espelhando a dramática história da Polónia do século XX.

Primeiro grande sucesso de Olga Tokarczuk, vencedor do prestigiado Prémio da Fundação Koscielski, Outrora e Outros Tempos é um romance histórico, filosófico, mitológico e, no dizer da crítica, «um clássico da literatura europeia contemporânea».

A autora sempre quis escrever um livro como este: «A história de um mundo que, como todas as coisas vivas, nasce, cresce e depois morre… Cozinhas, quartos, memórias de infância, sonhos e insónia, reminiscências e amnésia fazem parte dos seus espaços existenciais e acústicos, compondo as diferentes vozes da sua história.»

Apreciação

Romance histórico, filosófico, mitológico e um clássico da literatura europeia contemporânea

Assim é descrito Outrora e outros tempos que a Cavalo de Ferro publicou este ano e que tão bem reflecte a qualidade desta exímia escritora que, em 2019, foi galardoada com o Nobel da Literatura.

É em Outrora que se centra a história deste luminoso livro de Olga Tokarczuk que abranda o relógio e precisa de toda a atenção e calma para ser devidamente apreciado.

Mas se Outrora é na Polónia, no coração ou no centro do universo, não interessa. Esta é uma aldeia para onde os leitores são convidados a partir para reflectirem sobre o tempo, seja ele o tempo do Homem ou o tempo do homem. A autora que desenrodilha um novelo de lã, ou que porventura o enrola, e vai desvendando os grandes marcos históricos do século XX enquanto acompanha a vida de três gerações.

Os rios que são seres orgânicos, os animais que falam e a relva que sangra. A puérpera que sofre, a criança que cresce, o pároco que grita. Continue a ler no Deus me Livro.